quarta-feira, abril 3

Por que os velhos tempos sempre são os melhores?
Conversando com o Claumann, confessei que às vezes sinto como se não tivesse nascido no lugar certo.
Mas, pensando melhor, talvez eu tenha nascido no lugar certo, mas não esteja morando nele.

Nasci em Rio Negro/PR, mas sempre morei em Mafra/SC, cidade divisa com Rio Negro por uma pequena ponte.
Morei em Mafra até os meus 4 anos e jamais me esqueço dos momentos que vivi lá. Lembro-me muito bem dos frios invernos em que a fina garoa molhava o gramadão arborizado que tínhamos, sem contar com as geadas de madrugada que criavam uma cristalina e delgada camada de gelo nas plantas.
Naquela época eu tinha uma humilde casa na árvore, onde passava algumas horas olhando a chuva e me aquecendo com a jaqueta e o cachecol que minha mãe me vestia. Ah... e como eu curtia os noites ao lado do fogão à lenha, quando lá fora as pequenas pedrinhas de gelo caíam sobre o telhado, caracterizando a famosa chuva de granizo.
Ainda lembro dos pinhões quentes assados na chapa do fogão e das histórias que eu ouvia em reunião com toda a família.
E por que não lembrar também dos feriadões e dos finais de semana na casa da minha avó, em Curitiba, uma casa grande e super aconchegante, que acolhia toda a família! As férias de Julho eram sempre as mais esperadas, quando ía pra Curitiba curtir o Shopping Müller e o Mega Drive do meu tio, isso pouco depois de curtir o Atari, sem contar com os doces, tortas e quitutes que minha avó fazia.

Bem, hoje eu moro em Florianópolis, uma cidade litorânea com um verão brando (não muito brando ultimamente) e um inverno suave, pouco rigoroso. Como alguém já pôde ter percebido, sou fã de um inverno super frio e rigoroso, daqueles de colocar duas moletons e uma jaqueta, touca, cachecol e sair andando na rua vendo o hálito quente se desfazer na massa de ar gelado. Não sei se sou assim por ter nascido num local frio, ou também porque quando nasci, em 1983, houve a grande enchente em Mafra, quando o Rio Negro deixou suas águas vazarem e inundarem parte da cidade.

Na verdade Floripa é uma cidade maravilhosa por suas oportunidades e por ser de certa forma pacata. Suas praias são magníficas e no inverno suas luzes e ruas ficam ainda mais belas, pena que o povo daqui não entra muito nesse clima e continua andando de camisetas e passando frio, alguns chegam com seus lábios roxos e trêmulos, e teimam em não se agasalhar direito.

E quanto ao fato de não morar no local certo, sem dúvida nenhuma que aqui minha vida teve um leque de oportunidades muito maior do que eu teria morando numa cidade de interior - que, a propósito, não está crescendo muito ultimamente. Mas eu me refiro ao clima, às pessoas, ao ambiente de convívio. Às vezes eu me sinto meio excluído da cultura daqui, pois grande parte da população prefere calor, sol, verão, praia, surf, peixe, marisco, futebol, enquanto eu prefiro frio, inverno, shopping, e não curto nenhum um pouco frutos do mar. Mas eu convivo bem com as pessoas que me cercam, pois a divergência de costumes não é algo que irá distanciar amizades, se elas se baseiam em conceitos ideológicos e não habituais.

O "lance" de toda essa declaração é decorrente de uma nostalgia que ando vivendo. Hoje acordei ao som da chuva na janela do meu quarto, com um friozinho ameno e pequenos feixes de luz entrando pela veneziana. Levantei da cama pensando nos meus dias em Curitiba, em Mafra, e também quando estive nos Estados Unidos e Canadá, países que me encantaram muito, ainda mais o Canadá, com seus lagos grandes e pinheiros cheios de flocos de neve em finais de Outono. Jamais esquecerei aquela viagem!

Lendo tudo isso, eu me pergunto: por que os velhos tempos sempre são os melhores? Olha, eu não faço a menor idéia...